terça-feira, 18 de março de 2014

HOMENAGEM ARACAJU
Inácio Joaquim Barbosa: da chegada à mudança por Silvaney Silva Santos*
                                  A história não faz nada, não desenvolve batalhas, são os homens reais que fazem tudo isso, não é a história que usa os homens como meio de atingir seus fins, a história é a atividade dos homens para conseguir seus objetivos.
Marx
O objetivo deste artigo é mostrar aspectos da política adotada por Inácio Joaquim Barbosa desde a sua chegada em 1853, até a mudança da capital sergipana em 1855. Este texto toma como referências o livro “Aracaju e outros temas sergipanos” de José Calazans Brandão da Silva, publicações do jornal CINFORM de 2003 e o livro “Destino da província” de José Augusto Garcez, 1954 do qual foram retiradas as imagens. A discussão gira em torno dos seguintes questionamentos: Quem teria sido o pai da criança? O presidente nomeado? Ou este teria sido marionete de um barão?
O fato é que em 1853 o Brasil passava por mudanças. A indústria começava a dar um sinal de animação. Vivíamos a "era Mauá". A locomotiva era um sinal significativo dessa era. Antes da chegada do presidente Inácio Joaquim Barbosa em terras tupiniquins, os partidos políticos, Liberal e Conservador, eram verdadeiras facções em busca do poder. Logo, o governo precisava adotar uma política conciliadora, que pudesse apagar rancores. Esta política chegou a Sergipe através do então presidente, um homem que “possuía muita literatura”, dominava os idiomas francês, inglês, latino e italiano.
Inácio foi nomeado presidente da Província sergipana no dia 7 de outubro de 1853 tomando posse em 17 de março do mesmo ano. O recente presidente mostrou-se um grande articulador político; conservou a tranquilidade pública, estabeleceu a segurança individual e de propriedade, diminuiu o número de crimes, apelou para o governo o aumento de verbas para as despesas e aumentou o número de policiais. Desta forma Inácio Barbosa procurava resolver os problemas da Província usando a inteligência de um homem que sabia o que queria.
Após acalmar os ânimos dos partidos, Inácio Barbosa procurou organizar a política econômica de Sergipe. Na expressão de Calazans (1992), Sergipe “era o açúcar”. Porém, o presidente estudou o problema deste produto no contexto brasileiro, que na ocasião estava em crise, perdendo para a Inglaterra na concorrência e a carência de braços devido à abolição do tráfico negreiro em 1850 contribuiu para isso. Para solucionar o problema do açúcar, Inácio reduziu o imposto sobre o produto, junto a isso, se preocupou com o fabrico do açúcar tentando modernizar os engenhos com máquinas trazidas da Europa. O presidente Inácio Joaquim Barbosa via Sergipe totalmente preso economicamente à Bahia. Primeiro, havia uma submissão dos senhores de engenhos sergipanos aos trapicheiros baianos. Segundo, a inexistência de um comércio com os estrangeiros. O sistema econômico com a Bahia era desvantajoso, sendo os produtores sergipanos lesados na pesagem do açúcar.
Diante disso, o então presidente provincial procurava melhorar as barras para atrair os navios estrangeiros e comercializar de forma mais vantajosa com o estrangeiro. O presidente tentando satisfazer a gregos e troianos, organizou uma Companhia de Reboque a Vapor, chamando pessoas influentes de todos os partidos; nomeou-se uma comissão provisória composta pelo Barão de Maruim, coronel Cardoso de Araújo Maciel e Antônio Freire de Matos Barreto. Logo, ficou acertado que o local ideal era a Barra do Cotinguiba por ser a mais movimentada e de mais prosperidade econômica, nesta localidade ficava o povoado Santo Antônio do Aracaju. O topônimo "Aracaju” devido à presença de grande quantidade de papagaios e cajueiros, daí, na língua indígena, Aracaju. Nessa região havia a presença francesa os quais vinham explorar o pau-brasil, a pimenta e o algodão através do trabalho indígena. Os traficantes só deixaram de explorar a barra do rio Sergipe, depois que Cristóvão de Barros venceu os índios de Baepeba e fundou a cidade de São Cristóvão em 1590.
Existem controvérsias a respeito da localidade escolhida pelos vencedores. Alguns defendem a tese de que as cidades
 eram localizadas em locais mais afastados do mar devido ao medo de ataques dos piratas e de contrair a febre, doença comum na época. Devido a isso as cidades brasileiras eram edificadas na parte mais alta para defender-se dos inimigos. Mas em fins de 1854, a povoação de Santo Antônio do Aracaju já possuía centenas de moradores, gente humilde, pescadores e oleiros que moravam em casas de palha, a localidade, próxima à Barra do Cotinguiba, era privilegiada para o escoamento do produto mais importante da época, o açúcar.
O tema da mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju em 17 de março de 1855, é um dos mais explorados pelos historiadores. São vários posicionamentos sobre a dita mudança, o historiador e político Felisbelo Freire defende a tese de que a mudança da capital não foi uma iniciativa de Inácio, mas sim, de interesses políticos e individuais. Contrário a tal argumento, o primeiro historiador de Sergipe, Antônio José da Silva Travassos, defende que o presidente Inácio Barbosa influenciou o Barão de Maruim a ser favorável à mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju. Segundo Calazans fica claro, com as declarações de Travassos, a verdadeira autoria da remoção.
A tese de que Inácio foi influenciado pelo Barão de Maruim, segundo Calazans é injusta. Conforme o autor, o Barão era um homem generoso e não seria capaz de levar a frente um plano de tão sérias consequências, visando unicamente valorizar terrenos que possuía em Aracaju. O supracitado autor afirma que João Gomes de Melo já era um homem de recursos, na época o mesmo estava gastando muito na construção da igreja Matriz de Maruim.
O plano da mudança foi previamente traçado e estudado por Inácio Barbosa. O momento histórico que o Brasil passava era favorável para isso, como já foi evidenciado, vivíamos na era Mauá, tempo de progresso, desenvolvimento e conciliação, estas foram características marcantes da década de 50.
Há vinte anos antes da mudança da capital passávamos por um momento conturbado da nossa história, o Período Regencial, que foi marcado pelo derramamento de sangue e grandes agitações políticas. Em Sergipe tivemos a Insurreição de Santo Amaro, filha da ganância de grandes proprietários de terras e das frequentes fraudes eleitorais, processo que levou à decadência da próspera Vila de Santo Amaro das Brotas.  Um outro ângulo que deve ser observado para entendermos a mudança da capital são as localizações das cidades no século XIX. Estas passaram de cidades-fortalezas para cidades-portos devido à abertura cada vez maior dos mercados com a intensificação do capitalismo. Como exemplos de tais mudanças tivemos, de São Cristóvão para Aracaju, de Olinda para Recife e de São Vicente para São Paulo.
Partindo para aspectos mais locais, São Cristóvão encontrava-se em uma situação decadente. A antiga capital dependia de marés, tendo muita dificuldade para navegação, sua posição geográfica não favorecia a Província, sendo imprópria naquele momento como capital de Sergipe. Segundo Calazans era impossível São Cristóvão acompanhar as ideias da época.
Conforme o autor, a ideia da mudança era antiga, tal medida já havia sido pensada em 1832 por Gaspar de Almeida Boto, o qual defendia Laranjeiras como o local propício para ser a capital da Província. Em 1846, o engenheiro João Bloem apresentou ao presidente da Província a planta do Porto das Redes para a futura edificação da nova capital. Essa localidade correspondia, e ainda corresponde, a Vila de Santo Amaro (hoje cidade!). Tínhamos, com isso, as principais regiões para que fosse instalada a nova capital, Laranjeiras e Santo Amaro, ambas do vale produtor de cana de açúcar, o Cotinguiba. Mas o presidente Inácio Barbosa transferiu a capital para o lado do povoado do Aracaju, por suas boas águas, pelo bom ambiente e principalmente, por estar mais próxima da Barra do Cotinguiba, localidade ideal para a exportação do açúcar para o estrangeiro, libertando-se das amarras da Bahia.
Calazans faz, de maneira contextualizada, uma análise das causas da mudança que vão de encontro com a tese do professor Dênio Azevedo, o qual publicou no CINFORM, em 17 de março de 2003, nos 148 anos de Aracaju, uma matéria, que dizia que a mudança foi um simples “capricho do Barão” , fato contestado pela historiadora Maria Thétis Nunes, a qual publicou para o mesmo jornal, na mesma data, que Inácio Barbosa era um progressista e “não foi ele um aventureiro ou um inconsequente, uma manivela do Barão de Maruim”.
Diante de todo este contexto, pode-se concluir que a partir da chegada de Inácio Barbosa, Sergipe não foi mais o mesmo,
 passou de uma economia dependente para uma independente; de uma Província conturbada para uma apaziguada; de uma época atrasada para uma desenvolvida. Em suma, não se pode deixar de reconhecer a importância da figura de Inácio Joaquim Barbosa para o desenvolvimento econômico e político de Sergipe. Os seus feitos lhe renderam um monumento nas imediações do Cotinguiba e do Iate Clube de Aracaju, na avenida Ivo do Prado. Teria Inácio sido colocado no ostracismo propositalmente? Parte da historiografia sergipana leva a crer que sim.
Parabéns Aracaju pelos seus 159 anos!!!
*Historiador, pedagogo, especialista em Ensino de História e em Pedagogia do Movimento e aluno do curso de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Referências:
GARCEZ, José Augusto. O Destino da província. Aracaju: MCS, 1954.
JORNAL CINFORM, 17/03/2003.
SILVA, José Calazans Brandão da. Aracaju e outros temas sergipanos. Aracaju: Governo de Sergipe: FUNDESC, 1992.




Fonte:Blog do Claudio Nunes

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